VACINA BRASILEIRA CONTRA VÍCIO EM CRACK E COCAÍNA CONCORRE A PRÊMIO INTERNACIONAL
ETAPA DOS ENSAIOS PRÉ-CLÍNICOS, REALIZADOS COM ANIMAIS, MOSTROU
RESULTADOS PROMISSORES NA REDUÇÃO DO IMPACTO DA DROGA EM CAMUNDONGOS
Candidata a imunizante da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) concorre ao Prêmio Euro Inovação na SaúdeCMB/Getty Images
O candidato
a imunizante da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) concorre ao Prêmio
Euro Inovação na Saúde, que reconhece grandes inovações da área médica e
incentiva o desenvolvimento de soluções. A vacina anticocaína concorre na
categoria Inovação Tecnológica Aplicada em Saúde. Os vencedores das categorias
concorrem ao prêmio de Grande Destaque.
“Estamos na final de um prêmio
latino-americano que proveria os recursos para terminarmos estas etapas
clínicas, caso sejamos finalistas”, afirma o professor do Departamento de
Saúde Mental da Faculdade de Medicina e pesquisador responsável, Frederico
Garcia.
Para votar é
necessário ser médico com registro em um dos países com participação da
farmacêutica financiadora da premiação. Podem votar profissionais de medicina
com registro ativo nos seguintes países: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile,
Uruguai, Paraguai, Peru, Equador, México, Colômbia, Guatemala, El Salvador,
Nicarágua, Panamá, Costa Rica, Honduras ou República Dominicana.
Resultados promissores
A etapa dos
ensaios pré-clínicos, realizados com animais, mostrou resultados promissores na
redução do impacto da droga em camundongos, como mostrou a CNN em
2021.
Desde então,
o projeto concluiu as etapas pré-clínicas, em que foram constatadas segurança e
eficácia para tratamento da dependência e prevenção de consequências
obstétricas e fetais da exposição
à droga durante a gravidez em animais.
Os próximos
passos incluem a realização dos estudos clínicos, com voluntários humanos. O
pedido deve ser encaminhado à Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). De acordo com o professor
Frederico Garcia, a pandemia impactou o andamento do projeto e que o avanço
para as próximas fases depende de recursos.
Atualmente,
não existem tratamentos registrados em agências regulatórias para essas
dependências. As alternativas disponíveis são comportamentais ou usam
medicamentos que ajudam a tolerar a abstinência ou diminuir a impulsividade.
“Esse é um problema prevalente,
vulnerabilizante e sem tratamento específico. Os nossos estudos pré-clínicos
comprovam a segurança e eficácia da vacina nesta aplicação. Ela aporta uma
solução que permite aos pacientes com dependência se reinserir socialmente e
voltar a realizar seus sonhos”, explica Garcia.
O crack e a
cocaína são consumidos por mais de 18 milhões de pessoas no mundo, segundo o
Escritório das Nações Unidas (ONU) para Drogas e Crimes. Desse total, 25% podem
se tornar dependentes.
A candidata
a vacina desenvolvida na UFMG induz o sistema imune a produzir anticorpos que
se ligam à cocaína na corrente sanguínea. Essa ligação transforma a droga numa
molécula grande, que não passa pela barreira hematoencefálica, uma estrutura
que regula o transporte de substâncias entre o sangue e o sistema nervoso
central.
“Demonstramos a redução dos efeitos, o que
sugere eficácia no tratamento da dependência. Pensamos em utilizar o fármaco
para evitar recaídas em pacientes que estão em tratamento, dando mais tempo
para eles reconstruírem sua vida sem a droga”, detalha o pesquisador.
Outra
possibilidade de uso foi observada nos testes em ratas grávidas, que produziram
níveis significativos de anticorpos. “A
vacina impediu a ação da droga sobre a placenta e o feto. Observamos menos
complicações obstétricas, maior número de filhotes e maior peso do que as não
vacinadas”, diz Frederico.
De acordo
com o especialista, uma vacina para a prevenção primária de transtornos mentais
– como no caso da proteção aos fetos gerados por dependentes de cocaína
grávidas que forem vacinadas – seria algo inédito no campo da psiquiatria. A
patente já foi depositada pela Coordenadoria de Transferência e Inovação
Tecnológica (CTIT) da UFMG.
A proposta
visa enfrentar a dependência em cocaína e seus derivados, como o caso do crack,
que é uma mistura da substância com bicarbonato de sódio ou amônia. O projeto
já concluiu os testes pré-clínicos e busca financiamento para avançar até a
etapa com humanos.
“Até então, este projeto foi inteiramente
desenvolvido com recursos governamentais. Para restaurar a liberdade das
pessoas com dependência e prevenir as consequências fetais precisamos dar
início nos estudos com humanos”, completa o professor. Fonte:
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