terça-feira, 2 de abril de 2024

"O AMANHECER NO BATELÃO": F.SARAIVA

 TEXTO E IMAGEM: FRANCISCO SARAIVA

“O RIO, O BATELÃO E O AMANHECER”

Foto/Texto: F.Saraiva

Nada é mais bonito do que o amanhecer num batelão.

Quem levava à vida a bordo de um regatão, via o tempo passar sem pressa, diametralmente diferente do ritmo de vida na cidade.

Vivi um tempo rico no regatão do meu irmão Expedito, no Rio Acre, entre Rio Branco e Boca do Acre-AM, quando eu tinha 14 anos. 54 anos depois, ainda me lembro da doce rotina que eu tinha num batelão de pouco calado, pra facilitar a navegação em águas rasas.

O motor de popa briggs de 9 Hp, popularmente conhecido como burro preto, era operado pelo meu irmão Expedito. O batelão era governado pela popa, diferente dos batelões de maior calado e capacidade de peso, que têm um bailéu, onde fica a roda de leme de comando do batelão em navegação; pelas puxasas na corda da campa, o piloto solicitava pra diminuir ou aumentar a força do motor, com uma, duas ou três puxadas pra aumentar e em duas e uma pra diminuir.

Na agradável rotina, a gente andava de batelão durante o dia, e parava pra dormir no porto de um morador ribeirinho. Antes de dormir, a gente subia o porto ou o dono da casa descia, para uma boa prosa. Na hora de ir para as redes dormir, a gente arriava as sanefas do batelão, pra melhor se proteger da chuva e do frio.

Quando a gente começava a ouvir o bradar do canto do capelão, o maior macaco da mata amazônica, anunciando a chegada da manhã, a gente levantava, enrolava às redes e as sanefas e às prendia nos armadores e nos caibros do toldo do batelão, atiçava o fogareiro Gasol à gasolina ou querosene, para preparar o café da manhã; enquanto a água fervia, a gente aproveitava o tempo para lavar o rosto e escovar os dentes.

A Aldeídes, mulher do meu irmão Expedito, colocava uma panela com meia água pra ferver, preparava uma massa de milho moído, ajeitava a massa na tampa da panela, cobria bem com um pedaço de morim e colocava em cima da panela pra cozinhar no bafo da água que borbulhava; alguns minutos depois, o pão de milho estava pronto.

Depois de bem alimentados com pão de milho com ovos caipira e o café passado na hora, a gente desatracava o batelão do porto e seguia viagem, cumprindo a nossa agradável rotina, em contato direto com a natureza.

Falo de uma época onde o lucro da vida a bordo de um regatão não era contabilizado apenas em dinheiro.

Por: Copyright© 2024 @Flávio Santos

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