TEXTO E IMAGEM: FRANCISCO SARAIVA
“O RIO, O BATELÃO E O AMANHECER”
Foto/Texto: F.Saraiva |
Nada é mais
bonito do que o amanhecer num batelão.
Quem levava
à vida a bordo de um regatão, via o tempo passar sem pressa, diametralmente
diferente do ritmo de vida na cidade.
Vivi um
tempo rico no regatão do meu irmão Expedito, no Rio Acre, entre Rio Branco e
Boca do Acre-AM, quando eu tinha 14 anos. 54 anos depois, ainda me lembro da
doce rotina que eu tinha num batelão de pouco calado, pra facilitar a navegação
em águas rasas.
O motor de
popa briggs de 9 Hp, popularmente conhecido como burro preto, era operado pelo
meu irmão Expedito. O batelão era governado pela popa, diferente dos batelões
de maior calado e capacidade de peso, que têm um bailéu, onde fica a roda de
leme de comando do batelão em navegação; pelas puxasas na corda da campa, o
piloto solicitava pra diminuir ou aumentar a força do motor, com uma, duas ou
três puxadas pra aumentar e em duas e uma pra diminuir.
Na agradável
rotina, a gente andava de batelão durante o dia, e parava pra dormir no porto
de um morador ribeirinho. Antes de dormir, a gente subia o porto ou o dono da
casa descia, para uma boa prosa. Na hora de ir para as redes dormir, a gente
arriava as sanefas do batelão, pra melhor se proteger da chuva e do frio.
Quando a
gente começava a ouvir o bradar do canto do capelão, o maior macaco da mata
amazônica, anunciando a chegada da manhã, a gente levantava, enrolava às redes
e as sanefas e às prendia nos armadores e nos caibros do toldo do batelão,
atiçava o fogareiro Gasol à gasolina ou querosene, para preparar o café da
manhã; enquanto a água fervia, a gente aproveitava o tempo para lavar o rosto e
escovar os dentes.
A Aldeídes,
mulher do meu irmão Expedito, colocava uma panela com meia água pra ferver,
preparava uma massa de milho moído, ajeitava a massa na tampa da panela, cobria
bem com um pedaço de morim e colocava em cima da panela pra cozinhar no bafo da
água que borbulhava; alguns minutos depois, o pão de milho estava pronto.
Depois de
bem alimentados com pão de milho com ovos caipira e o café passado na hora, a
gente desatracava o batelão do porto e seguia viagem, cumprindo a nossa
agradável rotina, em contato direto com a natureza.
Falo de uma
época onde o lucro da vida a bordo de um regatão não era contabilizado apenas
em dinheiro.
Por: Copyright© 2024 @Flávio Santos
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