TÍTULO: "AS RUAS DA CIDADE VELHA"
AUTOR: FANDERMILER FREITAS/TARAUACÁ/AC
LIVRO: "A MENINA, A SAUDADE E O RIO"/ ED.01/VOL.01/2020
"A
cidade de Tarauacá/Ac, tem inspirado muitos de seus habitantes a escrever.
Vários poetas já falaram de suas particularidades, encantos, problemas, dilemas
e moradores. O texto abaixo é um belo exemplo de como a Literatura pode, além
de registrar a história, encantar o coração da gente":
De
vez em quando
A
friagem cruza o rio
Acompanhando
as velhas catraias
O
céu se recolhe de frio
E
no Teatro Municipal, 'Dona Vanderbília'
Toca
piano
De
vez em quando
Ouço
o apito das gaiolas
Cruzando
esses horizontes
São
homens sem voltas
Vindos
de longe
Escravos
das matas
De
vez em quando
O
sino da matriz toca
Padre
Matias e sua matemática enrolada
Caminha
pela Av. Antônio Frota
Enquanto
na rádio Antônio Alves (In memoriam)
Fala
de saudade
Em
“Recorda é Viver”
De
vez em quando o padeiro grita:
—
Olha o pão!
E
um batelão
Carregado
de borracha
Desliza
nas águas barrentas
Enquanto
na Leal Maia
Os
coronéis tomam cocal
Fumam
charutos e leem jornais
De
vez em quando
Um
avião cruza os céus
Santos
Dumont faz nas nuvens travessuras
Piruetas
nas alturas
E
José Potyguara encena
‘Alma
Acreana’
De
vez em quando
Chega
à balsa carregada de gás
E
na Farmácia do "seu Dezim"
Toma-se
um cafezim
Aplica-se
injeção
E
"seu Ormazim"
Veste-se
de branco em qualquer ocasião
De
vez em quando
É
Sábado de Aleluia!
Há
ladrões na lua
Vão
roubar suas galinhas
E
Dr. Tomé em sua bicicletinha
Vai
ao Sansão Gomes
Operar
milagres
De
vez em quando
Há
carne no mercado municipal
Vaguinho
e Curió são reis
Ninguém
come carne sem eles
E
o povo com fome
E
o povo com fome
E
o povo com fome
De
vez em quando
Surge
um salvador
Plano
barriga cheia
Prefeito
Solução
Ha
ha ha haaaaaaaaaaa
Não
sei nem o que falar
De
vez em quando
Ouço
música lá no Tinha
Zé
Pretinho e Arigó
Tocam
a vida em mi bemol
E
lá na Coopabor
Homens
secam ao sol
De
vez em quando
Abre-se
uma Escola de paxiúba
Obra
de Francisca Aragão
E
um menino barrigudo
Sem
esperança nem futuro
É
salvo pela educação
De
vez em quanto
A
saudade dos navios chega
No
apito das carretas
E
ouve-se o vento contar
A
saga mística de João Gretinha
A
tragédia de Amin Kontar
E
a loucura de Totó
De
vez em quando
Ouço
o festival da canção.
A
voz rouca de Pazinha
E
a poesia de Augusto ao violão
É
o que nos resta
De
vez em quando
O
cine Apolo fecha as cortinas
Bruce
Lee e Shaolin na grande tela
Enquanto
uma mulher de joelho em terra
Reza
Faz
promessa
Pra
pagar com uma vela
Na
procissão de São Francisco
De
vez em quando
Chagas
Milton toca sanfona
Em
seu sobrado
De
vez em quando
Chico
Camburão e neném rato
Fazem
festa no mercado
De
vez em quando
O
menino Baba faz história
Cria
a guarda mirim
E
a liga dente de leite
De
vez em quando
A
poesia é Núbia Vanderlei
E
Francisco Alves de Freitas
De
vez em quando
Ouço
a velha cidade gritar em mim
O
barulho da chuva na bica do Natave
As
marchas, os desfiles do sete de setembro
Os
jogos da amizade
O
aniversário da cidade
De
vez em quando
Eu
ouço a vida lembrar
Das
histórias de meu avô
Dos
casais de mãos dadas na praça
Das
cartas de amor
Das
serenatas ao violão
Dos
roubos de mulher
De
vez em quando
As
ruas da cidade velha
Invadem
o meu dia
E
eu fico a lembrar de outras coisas mais
Que
não se vê mais hoje em dia
Nem
cabem nesta poesia.
Biografia:
‘Miller’ (Fandermiler da Cunha Freitas), professor, contista, poeta, filho de
Francisco Alves de Freitas (In Memoriam) e Francisca das Chagas da Cunha
Freitas, nasceu na cidade de Tarauacá/Ac, em 11 de junho de 1975. Formou-se em
Letras vernáculo, pela Universidade Federal do Acre (UFAC). Atualmente,
trabalha no setor pessoal da SEME. Já publicou quatro livros: O Salto do
Silêncio, Noite de natal e outro Contos, A menina, a Saudade e o Rio e a Era
dos Barracões – Seabra; Tem trabalhos publicados internacionalmente em outros
países como Portugal.
Fonte: Rede Social: https://www.facebook.com/photo?fbid=192937707103923&set=a.163684456695915
Por: Copyright© 2023 @Flávio Santos
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