quarta-feira, 26 de novembro de 2025

TARAUACÁ:ÉPOCAS MEMORÁVEIS: PARTE II

O HISTORIADOR LEANDRO TOCANTINS DIZIA SABIAMENTE QUE NA AMAZÔNIA “O RIO COMANDA A VIDA”.  MUNICÍPIO DE TARAUACÁ PARTE II

ÉPOCAS MEMORÁVEIS

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O historiador Leandro Tocantins dizia sabiamente que na Amazônia “o rio comanda a vida”. No Acre, os inúmeros igarapés e rios, historicamente, constituíram vias de penetração, comunicação, fonte alimentar e divertimento.

No início do desbravamento, ainda não existia o avião que só veio aparecer em 1906, com a criação do 14 Bis por Alberto Santos Dumont, o que garantia o abastecimento das empreitadas dos nordestinos eram as chatas,  para Tarauacá vinha muito as de nomes “SOROCABA” e  “CAMPINAS”  os navios, gaiolas, batelões, canoas e etc. Até pouco tempo no período das chuvas o abastecimento do município era feito por balsas de até 600t. 

Naquela época os seringais mais distantes eram abastecidos e escoados a produção pelos próprios barcos do seringalista, bem como também os chamados regatões que mantinham contato com os seringueiros às vezes suavizando um pouco a escravidão que esse tinha com o patrão, vale lembrar aqui que esses regatões eram utilizados mais frequentemente, por Sírio-Libaneses e Turcos, temos como exemplo em Rio Branco os Faraht e aqui mesmo no município o Sr. Baget Eleamem, esse surpreendendo as pessoas da região com a facilidade que aprendeu a falar o português e a jogar tarrafa.

Navio Bandeira da firma Leal Maia

Mas pode-se imaginar o tamanho das dificuldades encontradas pelos imigrantes. Era preciso percorrer rios desconhecidos, conviver com hábitos alimentares diferentes, enfrentar doenças que não tinham como ser tratadas em regiões tão distantes como Vila Seabra da época. Muitos morreram ou nunca se adaptaram totalmente à região, como o memorável Humberto Turco, que nunca aprendeu a falar direito o português.

De seringal em seringal, colocação em colocação, os árabes foram se espalhando, crescendo, construindo família e patrimônio. Muitos ainda hoje acreditam que o desenvolvimento de Tarauacá só foi possível devido á força do comércio essencialmente árabe.

O Sr. Chico Sérgio revela seu orgulho ao contar que “Quando cheguei a Tarauacá não tinha nada. Dormia na casa do sogro numa rede e a mulher em outra, em cima. Tudo que tenho construí aqui. Minha esposa é daqui, meus filhos nasceram aqui e tudo que tenho está aqui”. Atualmente ele é uma das pessoas mais bem sucedidas de Tarauacá e tem distribuidora de bebidas, gás e combustível, além do tradicional comércio de gêneros alimentícios, eletrodomésticos e tecidos, bem ao estilo sírio-libanês.

Isso pode ser comprovado também pelos jornais locais que entre as décadas de 10 e 40, eram dominados pelos anúncios comerciais de árabes. Eram comuns os nomes de Muni Bissat, Raimundo e Humberto Turco, Antonio Asfury, Abdon, Eleamen, Tomáz, Mósle, Sólon, Calil Alaidim, Kalile Bucheck, Badir Fecury, Salomão, Munib, Amim, Magib Mamud Alabi, Salum Saadi, Mamud José Alele, Tufic Said e Said Bachir, este último proprietário da “ A SAMARITANA”, grande comércio onde se vendia de tudo e que muitos ainda lembram, era abastecido por grandes navios que vinham à cidade quando os rios estavam cheios e voltavam carregados de borracha. 

Um dos fatores que facilitara esse sucesso foi o apoio que os representantes da colônia árabe davam uns aos outros. Segundo seus descendentes, era como se fosse uma família. Quando um sírio-libanês chegava à cidade, os que já estavam arranjados cuidavam logo para que aquele abrisse um negócio e davam a mercadoria para que pagasse depois.

Foi o caso de Constantino Mósle, contou que veio para Tarauacá em 1905, oriundo do Líbano, através de um tio que já morava aqui, Mansoud Mósle, comerciante e seringalista. Assim que chegou Constantino foi trabalhar com o tio no comércio e algum tempo depois comprou o seringal Mato Grosso. 

Jamil conta também que o pai fazia comida árabe muito bem e era seu costume convidar os amigos  para almoçar em sua casa, quando só ele cozinhava. O mesmo Constantino foi lembrado ainda por Rames Eleamen, seu enteado, por ter sido o dono da “Maior e mais bonita horta de Tarauacá”, onde trabalhou até 80 anos de idade.

Os sírio-libaneses foram a sustentação do comércio, pois faziam fortuna, e ficavam aqui mesmo, não foram embora. Eram pessoas sérias e responsáveis”. Desabafa o Sr. Jonas Bady Fecury, revelando assim o ressentimento e mágoa daqueles “filhos da terra” que enriqueceram e foram embora.

O certo é que, apesar da colônia sírio-libanesa ter sido muito forte em Tarauacá e de serem muito unidos, ao longo dos anos muitos foram morrendo e ficando esquecidos. Hoje restaram poucas famílias e poucos nomes na memória dos mais velhos. As gerações mais novas de Tarauacá pouco ou nada sabem daqueles que foram os responsáveis pelo desenvolvimento econômico da região e ajudaram a construir a história do município. Fonte

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