sábado, 23 de janeiro de 2010

ENTREVISTA DA SEMANA:

A FILOSOFIA NÃO É PARA OS TÍMIDOS
"UM GRANDE LÍDER...VER-SE EM SUAS AÇÕES..."

Entrevista Com Isaac Melo
01- O que é ser filósofo?

Etimologicamente o filósofo é aquele que ama a sabedoria. Muitos costumam associar a figura do filósofo com a daquele que vive a pensar constantemente, à semelhança da estátua “O Pensador” de Rodin. Mas, o filósofo é, sobretudo, alguém de práxis, como o semeador, que lavra o chão, prepara a terra e lança as sementes. O grande problema é que vivemos numa sociedade fortemente capitalista e globalizada, que endeusa a ciência como se fosse a resposta para tudo e todos, onde só tem valor aquilo que dá lucro de imediato. E a filosofia não está preocupada com o resultado final, nem em dá repostas imediatistas, mas com o caminho a ser percorrido. O filósofo não é apenas um crítico, ele sempre vai além daquilo que a sociedade toma como pronto e acabado, de forma que para o filósofo não há ponto final, apenas reticência. Tudo que não é passível de questionamento, de discussão acaba empobrecendo as relações e limitando cada pessoa a seu próprio mundo. No exercício filosófico quando se fecha uma porta, abre-se outra. Portanto, o interesse último da filosofia não são as respostas em si, mas as perguntas. O filósofo é, então, aquele que está em constante conversação com a humanidade...

02- Como vê a situação atual de Tarauacá?

Tarauacá sempre foi uma cidade muito querida e importante para o Acre. Não sou saudosista, mas Tarauacá desde suas origens conheceu um progresso muito grande. Hoje a cidade vive um espantoso regresso que já vem de longo tempo e que alcançou seu auge nesses últimos anos. Temos uma administração municipal de faz de conta, para uma população que faz de conta que está revoltada, pois até hoje, não conheço nenhuma iniciativa popular em massa que se manifestasse contra essa situação, decerto estão gostando de andar na lama, nas ruas esburacadas, de um sistema de saúde precário, de lazer e cultura inexistente, etc. Eu não comungo das mesmas ideias dos que acham que temos progredido. Gostaria, sim, que fosse verdade. Mas já faz algum tempo que deixei de acreditar em Papai Noel. Nós temos políticos corruptos, porque temos pessoas que se deixam corromper. Enquanto o povo for corruptível, teremos corrupção na política, nas igrejas, associações, etc. Apesar de tudo, vejo o povo tarauacaense como o povo mais forte que conheço, alegre, festivo, que não se deixa abater, incansável. Aqui têm peculiaridades que não ocorre em mais lugar nenhum!

03- A que motivo voce atribui essa sua formação acadêmica?

Sempre pensei fazer filosofia, mesmo sem saber propriamente o que ela seria. Hoje sou formando dos Padres Maristas, portanto, filosofia é um curso que todos que estão se preparando para o sacerdócio têm que fazer. Então, juntando o útil ao agradável prestei o vestibular em 2006 e conclui meu curso em 2009. Sou grato, sobretudo aos Padres Maristas e a tantos amigos e amigas que tenho formado ao longo desses anos.

04- Sua interpretação de cidadão taraucaense. Como estar Tarauacá?

A toda época a sua glória e o seu horror. Creio que Tarauacá está passando por mais um momento de horror tanto na política como nas diversas esferas sociais. Não adianta colocarmos os políticos municipais como bodes expiatórios quando toda uma sociedade precisa mudar, se conscientizar. É claro que devemos cobrar primeiro daqueles que são eleitos e pagos para prestar serviço à comunidade. Todavia, é muito importante que todos os segmentos que compõe uma sociedade estejam funcionando bem: associações de moradores, juventude, mulheres, igrejas, sindicatos, escolas, meios de comunicação... Aqui temos tudo, mas quase nada funciona. Dessa forma, a própria sociedade fica enfraquecida para reivindicar e exigir os seus próprios direitos. Sociedade organizada, é povo fortalecido. É louvável que muitas ações têm sido feitas por iniciativa particular, porém, jamais deve fazer sempre aquilo que é de responsabilidade dos governos. Aqui temos um povo solidário e a solidariedade deve ser a grande mola propulsora de nossos tempos. Sozinhos não vamos muito longe, se o povo de Tarauacá não se organizar, não se despertar, terá ainda muito sofrimento pela frente. Porém, ele também carrega em si muitas soluções.

05- Como foi sua experiência recente no Paraná, seus estudos lá, seu contato com outra cultura, comida, vivência, outros povos... Enfim, outra terra?

O Acre me gerou, mas sou grato em dizer que o Paraná abriu as linhas do horizonte e da minha própria maneira de olhar e compreender o mundo. O Paraná me ensinou a amar mais minha gente, minha cultura e minha história. Não tive grandes dificuldades em me adaptar àquelas terras. Devo dizer que fiquei gostando mais do frio do que do calor. O povo é de relação um pouco reservada, fria, mas sempre me acolheram tão bem. Encarei tudo como novidade e busquei em tudo aprender mais. Fiz grandes amizades, me tornei um pouco mais humano e compreendi que precisamos cada vez mais de pessoas de bem para construir um mundo mais decente e digno.
06- Como vê a política de Tarauacá? Voce acredita em novos tempos?

Desde que os gregos inventaram o que nós, hoje, chamamos de política tivemos problemas com a administração da pólis. Portanto, não é exclusividade nossa. Particularmente, não tenho nada contra a vida pessoal de nenhum político de Tarauacá, mas estou muito decepcionado enquanto nossos representantes. Muita coisa poderia e deveria ter sido feita, mas quase nada se realizou. Todos os anos fazemos projeções animadoras, porém, não passa de blábláblá. Acredito que o ser humano é um ser de esperança, sempre passível de mudança. Por isso, não há motivos para eu não crê que um dia possa ser melhor. A utopia está aí para provar que muitos dos sonhos impossíveis de ontem é uma realidade nossa, hoje.

07- Em que situação você pensou: “Aqui estou aprendendo muito ou vivendo muito.”

Creio que em vários momentos, sobretudo na universidade, onde tive a oportunidade de ter bons professores, um bom curso, uma boa universidade, ter tido o contato com grandes pensadores brasileiros e internacionais.

08- Acha que as ações beneficentes são importantes para nossa cidade de Tarauacá e o grupo de jovens?

O ser humano, apesar de nascer egoísta, é também o ser mais solidário que há. Como nem sempre os governos tem estruturas suficientes para atender toda a demanda de necessidades, as ações beneficentes são uma grande prova de amor do ser humano para com o próprio ser humano. Mostra que a verdadeira força do homem é fazer o bem ao outro, muitas vezes alguém que ele nem conhece. O que seria de Tarauacá hoje sem as ações beneficentes? Uma vez ou outra ele tem que fazer aquilo que deveria ser de responsabilidade exclusivamente dos governos, infelizmente, quando na verdade cada um deveria cumprir seu papel. Se numa sociedade não há manifestação da juventude significa que temos uma sociedade doente. Os jovens são grandes protagonistas de mudanças, e não só de problemas, como pensam alguns. A juventude precisa está organizada, mas precisa de pessoas que os ajudem a organizar-se. Por isso, os grupos de jovens são tão importantes, pois permitem os jovens a serem protagonistas de sua própria história, de sua cidade, de sua igreja, de seu bairro.

09- Em uma palavra defina: Estudo, Vida, Família, Amigos, Trabalho.

Estudo: dedicação!
Vida: amor!
Família: gratidão!
Amigos: força!
Trabalho: necessário!

10-E o futuro? Qual é o lugar de Tarauacá no Acre?

O presente deve ser bem vivido, se quisermos projetarmos algo para isso que denominamos futuro. Se não cuidarmos bem de Tarauacá hoje, que futuro podemos esperar? Temos uma cidade sucateada, mas com um povo trabalhador e, é o povo que a erguerá, se quiser. Só não esqueçamos o que disse uma vez Dom Hélder Câmara: “não se deve abandonar a bandeira certa só porque ela está em mãos erradas!”.
Comentário Final:"UM GRANDE LÍDER...VER-SE EM SUAS AÇÕES...E VOCE É UM GRANDE LÍDER"
Por: Flávio Santos 2010.

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