segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Entrevista com Omar Sabino de Paula:

Entrevista com Omar Sabino de Paula
"Voce lembra da Escola? Hoje Fábrica de Gelo"


Quando a Revolução Acreana comemorava 30 anos, em 1932, nascia Omar Sabino de Paula na Vila Castelo, atualmente denominada Manoel Urbano. Quando iria comemorar seu 30o aniversário, Sabino era professor, sonhava ser advogado e era o secretário-geral do Comitê Pró-Autonomia do Acre. Depois da elevação do Acre à condição de Estado, em junho de 1962, a quantidade de cargos que Omar Sabino passou a ocupar tornou-se inumerável. Mas, de todos eles, Sabino destaca seu papel como deputado constituinte e legislativo quando produziu duas leis que eram, segundo ele, o supra-sumo do movimento autonomista: a criação do ensino superior no Acre e a regularização fundiária. "Estas eram as principais aspiração dos autonomistas e do povo do Acre", lembra Sabino.


Aos 74 anos, advogado e professor aposentado da Ufac, Sabino dá expediente em um grande escritório cercado de prateleiras e mesas com livros empilhados. Como bom intelectual, não tem muito zelo pela mesa. Na parede, chama a atenção uma foto da primeira turma de formandos do curso de Direito da Ufac, entre os quais o legendário bispo Dom Giocondo Maria Grotti. Em outra foto, Sabino aparece ao lado do ex-presidente do Peru, Fernando Belaúnde Terry (1963 a 1968 e 1980 a 1985) que muita gente pensa ser o ex-presidente brasileiro Emílio Garrastazu Médici (1969 a 1974). "Eu também tenho uma foto com o presidente Médici, mas é foto coletiva", observa. Casado com a professora Maria José Carvalho de Paula, no dia 29 de março de 1958, neste ano ele comemora Bodas de Ouro com uma viagem pela Europa. Tem três filhos e três filhas, 13 netos e seis bisnetos.


Por sua formação escolar, muitos acreditam que o senhor é xapuriense.

Eu tive toda minha formação do hoje chamado ensino básico em Xapuri, mas nasci na antiga Vila Castelo, atualmente denominada Manoel Urbano. Meu pai - João Sabino de Paula - era oficial de Justiça em Manoel Urbano onde eu vivi até os cinco anos. Depois, por força de uma transferência, viemos para Rio Branco, onde ficamos um pequeno período de tempo e logo meu pai foi novamente transferido, em 1939, para a Comarca de Xapuri, onde cheguei com pouco mais de seis anos e iniciei meus estudos no Grupo Escolar Plácido de Castro, que existe até hoje. Terminei o curso Primário no Colégio Divina Providência e o Secundário na Escola Normal Regional de Xapuri.

Quando o senhor veio a Rio Branco?

Em 1949, o governador do Acre era o major José Guiomard dos Santos e o prefeito de Xapuri era Minervino Neves Bastos. Um entendimento entre os dois resultou em que fui contemplado com uma bolsa para prosseguir com os estudos na Escola Normal Lourenço Filho, onde eu fiz três anos e me formei professor primário. A esta altura eu já lecionava, mesmo como estudante, em escola de educação para adultos. Mais tarde fui professor, também, do Educandário Santa Margarida.

Nesta época o Acre ainda não tinha ensino superior?

A Escola Normal para área pedagógica e didática era a mais alta etapa dos estudos em Rio Branco. Em seguida, não havendo mais alternativa senão cursar outra escola de nível médio, eu cursei a Escola Técnica de Comércio me formando em contabilidade. Não satisfeito, para que meu curso de Xapuri equivalesse ao cientifico, eu fiz exame de adaptação ao curso cientifico preenchendo todas as matérias que eu não havia estudado.

Como nasceu a Faculdade de Direito?

Meu sonho era me formar em Direito. Esta era minha grande aspiração. Eu tinha dois primos de segundo grau formados em Direito. Eram o doutor Jéferson de Brito Nunes e o doutor Adauto Brito. E minha mãe acompanhou muito os estudos destes parentes, tornando-se uma entusiasta de minha causa. Queria que eu fosse um dia advogado. Mas, como ser advogado naquela época em Rio Branco, considerando que eu era um modesto funcionário público e meu pai não tinha condições financeiras de me manter em estudos em Manaus, Belém ou São Paulo? Daí que na campanha de defesa do Estado do Acre surgiu paralelamente o movimento pela criação de uma universidade, pois esta dependia da elevação do Território a Estado.

Enquanto Território Federal o Acre não podia ter universidade?

Nem mesmo faculdade. Em 1955 nós formamos ao lado de outras lideranças (Geraldo Mesquita, Aldenor Ortiz Chaves, Edson Rodrigues Martins, Foch Jardim, Francisco Lira, Francisco de Oliveira Conde e Miguel Jerônimo Ferrante) e iniciamos movimento para criar a Universidade do Território do Acre.

Tudo corria bem, mas quando chegou ao Ministério de Educação, a resposta foi que o Acre na condição de Território Federal não podia ter faculdade ou universidade porque lhe faltava um Conselho de Educação para autorizar o funcionamento. A frustração no meio estudantil foi muito grande. Nós tínhamos feito todos os esforços e vimos cerceadas nossas aspirações.

Como esta negativa refletiu no movimento autonomista?

O impacto foi tão grande que, em 1957, as eleições para dois deputados federais do Acre foram consideradas nacionalmente como um plebiscito a favor ou contra a autonomia. Venceram os autonomistas elegendo Guiomard dos Santos do PSD com grande margem de vantagem sobre Oscar Passos, do PTB, que era contra a autonomia. Guiomard teve apoio maciço dos estudantes e, junto com a regularização fundiária, a criação da universidade passou a ser a maior bandeira do movimento autonomista.

Qual foi sua participação neste movimento?

Em 1957 fundamos o Comitê Pró-Autonomia do Acre ao lado daquele que foi o governador que me trouxe de Xapuri para estudar em Rio Branco, então deputado federal José Guiomard dos Santos; Edson Martins, Aldenor Chaves, Natal de Brito, Otacílio de Alexandria, Fontenele de Castro e tantos outros. Meu grande trabalho foi realizado neste comitê em todo o Acre. Eu era o secretário geral, portanto, coordenador das atividades em todos os municípios acreanos. Porque ele chegou a ser tão importante que assumiu as proporções de um partido. Nós tínhamos diretórios a partir de Cruzeiro do Sul, em Tarauacá, em Feijó, em Sena Madureira, Xapuri e Brasiléia. Estes diretórios movimentavam uma campanha em cada área.

Como era feita a propaganda dos autonomistas?

Nós tínhamos o apoio do governador do Acre, o coronel Manuel Fontenele de Castro. Ele investiu no cargo e me nomeou diretor de Imprensa e Radiodifusão, um cargo que correspondia ao de secretário de Estado hoje. Eu também era diretor do jornal autonomista "O Estado", cujo responsável como diretor-geral era o próprio deputado José Guiomard dos Santos. E tínhamos também o jornal "O Acre" do qual eu era redator-chefe que era um misto de diário oficial do governo e um noticioso. Nós tínhamos ainda a Rádio Difusora em Rio Branco e em Cruzeiro do Sul, que acabávamos de instalar. Na imprensa eu tinha todos os meios de atuação em prol da propaganda do Estado, de enfocar as vantagens que viriam com o Estado. E, entre estas vantagens, nós citávamos o ensino superior no Acre. Era nossa forma de trazer a estudantada para o movimento. E os estudantes atenderam ao chamado, pelo que até hoje lhes rendemos homenagens.

Por que os autonomistas perderam a primeira eleição para o Governo?

A questão partidária era levada muito a sério no Acre daquele período. No Estado haviam dois grandes partidos: o meu PSD, do José Guiomard dos Santos, do Jorge Kalume, do Geraldo Mesquita, do coronel Fontenele, do doutor Valério Magalhães e muitos outros. E tinha o PTB liderado pelo deputado federal Oscar Passos. E como fiel da balança tinha a UDN do ex-governador Joaquim Macedo e outros. Quando estava para acontecer a primeira eleição do Estado, a UDN que nunca se manifestara, coligou-se com o PTB e houve a derrota inesperada do Guiomard Santos, que foi a derrota do comitê dos autonomistas. A UDN provocou um desequilíbrio de forças dando a vitória ao professor José Augusto de Araújo. Mesmo assim Guiomard Santos foi eleito senador.

O fato de ser de outro Estado não pesou na derrota de Guiomard?

Eu sempre ressalto que o senador Guiomard defendia que o PSD lançasse um candidato acreano para governar o Acre. Ele chegou a me apresentar como candidato de conciliação ao Oscar Passos. Nos encontramos no Palácio Rio Branco na presença do governador provisório Aníbal Miranda e do Rui Lino. Fui apresentado como um candidato de união ao Oscar Passos e ele pediu um tempo para consultar suas bases. Em seguida, muito delicado, anunciou que o partido já havia fechado em torno da candidatura do professor José Augusto e que seria impossível me apoiar naquela hora. Desta forma o próprio Guiomard dos Santos foi o candidato, mas teve que enfrentar o professor José Augusto apoiado pelo PTB e pela UDN.

Quais foram suas primeiras ações como deputado estadual constituinte?

Eu fui autor da Lei 15 que criou a Faculdade de Direito dando origem à UFAC e fui autor, também, da lei da regularização fundiária, a Lei 39 que autorizou o Estado a distribuir títulos definitivos aos possuidores de títulos provisórios distribuídos pelo ex-governador Guiomard dos Santos. Isso foi uma graça que Deus me deu. Já na primeira Constituição do Estado eu correspondia à aspiração dos jovens do Acre e regularizava as terras de agricultores que até hoje estão aí produzindo. Atualmente, ao lado das universidades particulares, a UFAC muito nos orgulha. Estas ações nos empolgam, nos deixando ver que novos dias cada vez melhores virão para nossa gente. É o povo que estuda, a juventude que se prepara para os dias futuros. E tenho certeza que grandes dias virão para nos possibilitar progresso e desenvolvimento para o Acre.

Como o senhor vê o Acre de hoje?

O Acre passa por uma fase de progresso. Teve problemas de toda ordem, mas superou todos e hoje vive conquistas muito importantes. Deus me deu esta oportunidade de estar vendo isso. Poucos do meu grupo estão podendo ver este progresso no campo educacional, das rodovias e outros aspectos. Ainda recentemente eu estive na inauguração da rodovia que liga Plácido de Castro a Acrelândia com o governador Binho Marques e me lembrei que no governo Edmundo Pinto, como procurador-geral do Estado, ficou a meu cargo o estudo para criação de novos municípios. Depois de várias tentativas dos governadores Flaviano Melo e Nabor Junior, foi no governo Edmundo Pinto que conseguimos instalar todos os que faltavam, menos Acrelândia. Antes, só havia sete municípios: Cruzeiro do Sul, Tarauacá, Feijó, Sena Madureira, Rio Branco, Xapuri e Brasiléia. Foi no governo Edmundo que nós criamos todos os outros, inclusive o meu Manuel Urbano. Então, eu dirigi assim esta fase da história. Por: Agência Aleac

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