quinta-feira, 13 de agosto de 2009

ENTREVISTA:

Entrevista Com Deputado Moisés Diniz (PC do B)

Pergunta de Número Um:


Casado? Sim! Filhos? Três! Ísis, 14; Lis, 12 e Ínia, 3. Ínia significa Água em ashaninka, língua da minha bisavó. Formação acadêmica? Pedagogia pela Ufac. E profissional? Sou professor, tenho dois contratos do estado, concursado! Religião? Respeito a religiosidade do povo! Fui eu quem defendeu e inaugurou no PCdoB do Acre a filiação de religiosos. Quanto a mim, acredito na suprema sabedoria humana de que, um dia, o homem erguerá na terra um belo Éden de todos, através do trabalho coletivo!

Quando Marx afirmou que "a religião é o ópio do povo", ele filosofava sobre uma realidade trágica de uma igreja obscura, corrompida pelos senhores de terra e adestrada por uma burguesia nascente. Marx falaria diferente sobre uma igreja de mártires, como a igreja da América Latina e a sua ainda resistente Teologia da Libertação. Tenho convicção de que não será ópio uma religião aberta ao sopro da civilização que se desenvolve, democrática, destituída de elementos fanáticos e sob o controle das multidões. Agora, a igreja sob a liderança de Ratzinger assusta e inquieta...

Pergunta de Número dois:


Já li alguns de seus poemas. É ligado em que estilo de poesia?

Escrevo solto, não me apego a estilos, poetas famosos, etc. Grafo o que atinge, naquele instante, o meu espírito. Minhas angústias, que sei que são angústias de todo homem, minhas vontades e ressentimentos...

Música?

Gosto de MPB, música sertaneja. Sou fã incondicional de Bruno e Marrone. Uma de minhas músicas preferidas é Dormindo na Praça. Minha música de campanha de 2000 para prefeito de Tarauacá foi Morango do Nordeste, de Laírton e seus teclados. Gosto de Amado Batista, Fagner, Fernando Mendes, Chico Buarque. Melhor dizendo, eu ouço o Brasil e sua vasta e rica variedade musical! Escrevo ouvindo música latina e cubana, para não me concentrar na letra, especialmente Mercedes Sosa e Pablo Milanês.


Pergunta de Número Três:


Que outras manifestações artísticas e culturais admira?


Fico horas assistindo uma dança do mariri, bebo caiçuma (uma vez lá na aldeia Caucho, bebi mais de quinze copos de caiçuma numa noite, fiquei bem "legal"), uma dança do boi, uma peça de teatro, um mágico de rua, um repentista...


Pergunta de Número Quatro:


Qual sua opinião sobre a censura que hoje vigora no Acre?


Inicialmente, é preciso que fique claro que eu já superei a fase do Chapeuzinho Vermelho: eu não acredito em lobos que se vestem de vovozinha! Lobos são lobos! Os meios de comunicação do Acre não têm um programa de inclusão do povo, de democracia plena, de defesa do movimento social. A mídia acreana não está no coração dos excluídos, porque não os defende! Os povos indígenas, os negros, os ribeirinhos, os pobres da periferia, as prostitutas. Nenhum desses segmentos tem seus direitos defendidos pelos atuais meios de comunicação.

Alguns jornalistas ainda tentam resistir. Outros fazem de conta que estão resistindo! É nesse prisma que eu discuto liberdade de expressão!

Primeiro, a liberdade de expressão será sempre de quem a comprar. Notícia é mercadoria, cara e monopolizada! A cada governo, mudam os donos que negociam e se inicia uma guerra de substituição. Aquele jornalista que "ralou" durante aquele governo, passa agora a ganhar cinco vezes mais. Já vi tanta coisa!

Segundo, num governo de esquerda (oriundo do movimento social, como o nosso) e conhecedor dessa realidade, faz-se necessário levar a sério o debate sobre liberdade de imprensa. Eu, pessoalmente, investiria em instrumentalizar o movimento social na área de comunicação. Eu toparia correr riscos. Prefiro correr riscos do que enriquecer tubarões! Sindicatos e associações de moradores teriam os seus canais de rádios e, pelo menos, um canal de tv.

Quanto ao atual modelo de comunicação do governo, acho que é possível melhorar, ampliar as relações com o contraditório, dialogar mais, ouvir mais outros atores e incluir mais o povo. Por fim, posso lhes garantir que não considero isso uma formulação romântica!


Pergunta de Número Cinco:


Quais são seus principais projetos de lei?

o Proíbe o corte do fornecimento de energia e água nas sextas-feiras e dias que antecedem feriados.

o Cria a Comenda Suero Kaxinawá de Florestania Indígena, como forma de premiar entidades, lideranças e aldeias que se destaquem em prol da causa indígena.

o Estabelece a distribuição de preservativos nos postos de gasolina, das 22 às 6 horas da manhã.

o Garante a distribuição de livros para policiais militares e civis, com temas humanistas e jurídicos.

o Abre a Sala do Interlegis da Aleac para treinar gratuitamente jovens carentes em informática.

o Disciplina a divulgação trimestral dos índices de violência e criminalidade, instrumentalizando a sociedade de mecanismos de controle e participação.

o Protege os praticantes das religiões adventistas e judaicas, que guardam o Sábado, nas suas relações de trabalho com os patrões.

o Estabelece que no dia 22 de março, dia mundial da água, aqui no Acre, será considerado o Dia Estadual de Conservação das Nascentes, rios, córregos e lagos.

o Inclui motivos indígenas nas faixas de trânsito (sinalização horizontal).

o Institui a CNVDC, uma certidão que pune as empresas que violam os direitos do consumidor.

o Institui a Tarifa Social da Água.

Pergunta de Número Seis:


Por que o PT nunca apóia o PCdoB em Tarauacá?


Primeiro, é preciso conhecer um pouco o PCdoB de Tarauacá. Cheguei a Tarauacá em 1985, como Irmão Marista. No final daquele ano, saí da igreja e fundei o PCdoB. Hoje, em todos os seringais de Tarauacá, não há menos de 10% de seus habitantes filiados ao Partido. Fizemos um trabalho de enraizamento, de organização na base. Em toda comunidade rural tem um militante respondendo pelo Partido. Tarauacá tem mais filiados ao PCdoB do que em Rio Branco. São quase 2.000 filiados. Lá nós priorizamos a luta diária como instrumento de validação da teoria marxista. Estudamos também! Procuramos organizar os cursos de formação, levando em conta a realidade do lugar, sua cultura, sua religiosidade. Nossos olhos estão contemplando o universal e nossos pés fincados no local!

O PCdoB de Tarauacá inovou a sua forma de organização. Em cada bairro, cada seringal e cada aldeia indígena, nós reunimos os filiados e elegemos o presidente do Partido naquela localidade. Na mesma reunião, elegemos ainda a presidenta das mulheres e o presidente da juventude, funções que são renovadas a cada dois anos.

O PCdoB de Tarauacá tem sede própria e uma área rural para lazer (também própria). Agora em outubro, o PCdoB de Tarauacá completará 20 anos que tem sede aberta todos os dias da semana. Dirigimos há uma década e meia o Sinteac, o STR, a União Taraucaense de Mulheres, o Movimento Indígena, a maioria do movimento comunitário e o movimento estudantil. Temos banda de música, constituída por adolescentes filhos de dirigentes do Partido e uma dezena de grupos de jovens organizados por bairro ou escola. Das 43 associações de produtores rurais, dirigimos 41. O Sinteac de Tarauacá tem sede social moderna, piscina, infra estrutura de luta e uma academia de ginástica de última geração. O movimento comunitário, depois de cinco anos de batalha, detém uma rádio comunitária, que é sucesso de audiência, a Nova Era FM. Quanto à pergunta, só o PT pode responder...

Por: Blog da Madrugada.

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