VOCE CONHECE ALGUÉM ASSIM???
COMO LIDAR COM PESSOAS QUE
SÓ FOCAM EM SI MESMAS
ESSE TIPO DE
RELACIONAMENTO OCORRE QUANDO UMA DAS PARTES ENVOLVIDAS FALA MAIS DE SI MESMO E
PRESTA POUCA ATENÇÃO NO OUTRO
Conhece alguém assim Célio Accioly???
Para falar de relação, tanto familiar, quanto amorosa ou
de amizade, é preciso pensar em um movimento de troca, de vínculo, de
comunicação e interação de ambos os lados. Costumo comparar muitas vezes uma
relação com uma ponte, onde cada um tem sua metade para ir e vir. E o encontro,
das pessoas, acontece bem lá no meio, conforme a disponibilidade, dedicação e o
interesse de ambos os lados. Uma relação nunca poderá ser construída por um
lado só, é preciso um movimento das duas partes e por isso, acho este exemplo
bem válido.
Ao nos imaginarmos andando por uma ponte em direção ao
outro, estamos falando de interesse, de olhar para o outro, de buscá-lo e,
apesar de enxergarmos e irmos na direção do outro, também não podemos deixar de
nos perceber e ter o nosso próprio chão, a nossa parte da ponte, que é
fundamental para existirmos por nós mesmos numa relação, pois é o que nos
manterá de pé e também o que podemos oferecer de apoio (se necessário). Então,
desta forma podemos pensar que para nos relacionar precisamos ter empatia e ter
egoísmo ao mesmo tempo em medidas
adequadas.
Da metáfora para o dia a dia
Para um bom relacionamento,
alguns cuidados são necessários sempre: é preciso estar atento para não ficar
muito longe ou muito no nosso espaço, pois isso nos afasta do meio "da
ponte", ou seja, nos afasta do outro e nos impede de ver, ouvir e
percebê-lo realmente. E esta mesma atenção cuidadosa é válida para uma atitude
oposta, isto é, para não invadirmos a metade da outra pessoa. Mesmo sendo um
espaço aberto para nos receber, não significa que necessariamente seja de livre
acesso. E, se não tomarmos pequenos cuidados, podemos abusar deste espaço na
relação, que não nos pertence e assim diminuímos o outro em nossa vida e também
na vida dele.
Quando não permitimos uma aproximação do outro ou quando
invadimos o tempo, as ideias e o espaço do outro, temos provavelmente uma
relação conflituosa e com um movimento egocêntrico. Se pesquisarmos a respeito
do significado da palavra egocentrismo iremos encontrar explicações como:
alguém que se refere a seu próprio eu, excesso de amor por si mesmo, desconsideração
com os interesses alheios, um egoísta. Apesar de estas características
parecerem não combinar com uma ideia de relação, costumamos assistir ou mesmo
vivenciar relações com pessoas egoístas frequentemente em nossas vidas e nas
mais diferentes esferas: familiar, namoros, casamentos e, claro, também nas
amizades.
O que torna uma pessoa
egocêntrica?
Uma pessoa egoísta não precisa ser vista como uma pessoa
ruim. E também não quer dizer que não goste de você ou não te queira bem. Mas
pessoas egoístas tem dificuldade em perceber o outro, a necessidade em atender
o próprio ego faz com que não enxergue, não ouça e não dê muito espaço para o
outro existir na relação. São pessoas que costumam falar muito sobre si, suas
atividades, sua profissão, suas viagens, suas descobertas e o que chama a
atenção é a intensidade que esta pessoa demonstra com o seu eu. Normalmente
suas falas vão conter o "eu" repetidas vezes e das mais diferentes
formas, como: eu sei, eu sou, eu faço, eu já fiz, eu conheço alguém, eu ouvi
dizer. Assim como frases de posse também fazem parte do seu discurso, como: meu
amigo, minha escola, meu trabalho, minha ideia, minha época...
Falar de si mesmo é sua principal característica e é
válido tanto para coisas boas, divertidas e gostosas como também para
dificuldades, questões com saúde, problemas financeiros. Seus problemas sempre
parecerão mais intensos e precisarão de mais espaço e tempo do que outros. É
comum nos egoístas interromperem falas dos outros para se incluírem nos fatos
ou mesmo para mudarem o assunto, conforme sua necessidade ou desejo. E por isso
costumam ter ou gerar relações bem conflituosas.
Não é fácil permanecer por muito tempo com pessoas que
possuem esta característica de forma muito intensa. Por mais carinho ou amor
que tenhamos por alguém assim, pessoas egocêntricas não nos permitem muito
espaço para viver em conjunto. Normalmente, por mais que desejem a relação, não
estão abertas a trocar ou interagir, visto que não há interesse real pelo que é
do outro e sim por si mesmo. E vale recordar aqui que para ter uma boa relação
é preciso ter duas partes de pé, caminhando, interagindo, sendo acolhidas e
desejadas. Quando somente uma parte ganha, ou fala, ou acredita que está certa,
provavelmente está invadindo o espaço do outro e diminuindo a existência dele,
ou quando está ausente ou longe do outro, preso no seu próprio espaço sem
acesso, fica difícil se relacionar, não acham?
Como resolver essa situação?
Conversar a respeito é sempre um
caminho muito bem vindo e necessário para tentar amenizar relações
conflituosas. Conseguir mostrar com jeito, sem agredir ou acusar, que o outro
precisa rever suas atitudes, pois está sendo egoísta, é fundamental para que a
relação possa ter uma chance de futuro. Mas isso não significa que o outro irá
concordar ou estará aberto a isso. Principalmente porque é comum que o quadro
esteja assim por muito tempo, às vezes anos e quando nos sentimos incomodados
já é uma situação intensa, onde estamos desgastados e o outro muito acostumado
a agir desta forma egoísta.
Será preciso muito tato para mexer neste assunto e
descobrir novas possibilidades, que somente será possível se ambas as partes
estiverem com este mesmo interesse. Caso contrário, é muito provável que se
separem ou se distanciem, pois um lado sente-se sufocado, esmagado e
inexistente e precisa recuperar seu espaço de vida, enquanto o outro lado está
grandiosamente espalhado e reinando e precisará se recolher, diminuir o espaço
dominado e isso pode não ser interessante para este lado também. O principal é:
se não houver o esforço para querer estar junto e superar esta falha na divisão
de espaço da relação, é provável que a falta de interesse, de ambas as partes,
vença.
É uma situação delicada, pois muitas vezes há um carinho
real de ambas as partes, mas o movimento egoísta intenso enfraquece um lado e a
relação fica desequilibrada. Por isso é difícil que fiquem por muito tempo
juntos ou que fique bem enquanto juntos.
O lado bom do egoísmo
Vale a pena lembrar aqui, também, uma curiosidade: a de
que na verdade todos nós somos egoístas. É, isso mesmo, somos todos egoístas! E
isso não é um problema ou não precisa ser. Possuímos todos de um ego, isto é, a
nossa existência e individualismo enquanto seres humanos e isso é fundamental
para existirmos. O egoísmo, não precisa ser visto como algo ruim ou
prejudicial, pelo contrário, ele é necessário para que possamos fazer parte de
um todo, sem sermos somente uma sombra. Mas é preciso deixar bem claro que há
uma diferença entre esta necessidade de um egoísmo e a de ser um egoísta. Ter o
egoísmo é manter-se ciente sobre si mesmo, suas particularidades e assim
garantir o seu "eu", estando aberto para ver, ouvir e receber o outro
sem abrir mão de sua existência e isto é muito importante. Já, ser egoísta é se
colocar acima, ou a frente do outro e é somente enxergar a si como necessidade
e que não muito parecido consigo.
Outra face do problema
Para finalizar, acredito ser bem válido deixar aqui uma
reflexão, um pouco mais além do que somente tentar entender ou como lidar com
pessoas egoístas. Vale a pena pensar, também, no porque permitimos que estas
pessoas tomem tamanho espaço em nossa vida? Porque deixamos que nos direcionem
ou alterem nossos desejos? Onde estávamos quando começaram invadir nosso espaço
na relação? Porque não nos manifestamos antes? O que aconteceu com nosso ego
nesta relação?
Penso que se conseguirmos saber mais sobre quem somos,
qual nosso espaço, nossos limites e desejos, provavelmente não permitiríamos
que o egoísmo de outras pessoas nos invadissem e assim evitaríamos ou
minimizaríamos bem este impacto. Afinal, elas não nos procurariam ou não se
tornariam tão egoístas conosco. Olhando assim, podemos entender que de certa
forma temos uma participação nesta história do egoísmo do outro e por isso
refletir sobre nosso eu/ego (egoísmo) parece necessário para entender quem
somos e somente então tentar entender o outro.
Fica a dica.
Raquel
Baldo Vidigal
PSICOLOGIA - CRP 79518/SP
PSICOLOGIA - CRP 79518/SP
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